sexta-feira, 27 de agosto de 2010

MESMIDADE [Manoel Serrão]























Fornada a fornada
Um tempo outra casca torrada.
Outro tempo, miolo mofado,
Pão desfeito, despedaçado.
Quando o trigo já não é o que é,
O joio nos pensa.



quinta-feira, 26 de agosto de 2010

DÂNDI ATÍMICO [Manoel Serrão]




















Desbrio cromo rude anômalo.
Ethos aléxico nude atímico.
Xeno-imago anon-imato o atávico,
Persona enfadonha divisa psique da soma.


Neo-autômato, risus sardonicus.
Dândi inseto desafeito o afeto.
L’infâme do não-ser o afago,
O héxis no desfrute da Távora.


Suícida!
Voro animi mori o cordi cida?
Suícidio vacante o Matrix.
O nada ser visto,
O não-acontecido.
O irreal e O invisível.
O Silente insidia tornado exílio que apaga o outro.

ILHOSES [Manoel Serrão]
















Feito corpo.
Feito alma.
Feito espírito.
Feito todos nós infestos de agruras abstêmias
Idem inglório epíteto insultos os.


Destapas d’alma a fenda ó bardo?
Azo a sós, dê-se em essência parida, opila,
Tece pelo bico da Parkinson odes diversas das que vos alinhava tecidas a ponto perfeito?


Não ranço?
Não o vil escárnio que escoado pelo o esfínque sai escarro:
A de não tê-las n’outras cartilhas o verbo a dor sido purgado para ser carne?
Vês?! Vês que dor se for [do que duvido!] não é verbo para sê-lo,
E se feito dor porque dor se faz nem sequer é carne.


Feito dor.
Feito verbo.
Feito carne.
Feito todos nós infestos de agruras abstêmias
Idem inglório epíteto insultos os.
É preciso tu, que o pensa ser, mais que tudo, útero,
Deus e o Nada sede mais que os nós dos ilhoses.


Ousa te dizer?
Ou é-me essência!
Ou de fenestra a Ambrosia dos mortais

SAL & CAL [Manoel Serrão]




















A safra o sal encharca o chão,
Safa em sacas faz do silo o cio
E do latifúndio são parecer o céu.


A cal o pó do estio o caos.
A sesma a dor a sede,
O ser a fome, agoniação.
Agoniza em vão, “paga”
A gleba cava sem-grão.


Cabra cega a fúria mira,
Ira, nega o feito e aponta,
Cede sem "opor-se ao pão”
Mas a conta?
O dedo acaba no cão.


CÂNDIDO PORTINARI, Criança Morta (Criatura muerta), 1944

Óleo s/ tela, 176 x 190 cm.
Col. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand São Paulo, Brasil

FOUCAULT [A História da Loucura] [Por.: SerrãoManoel]



















“Aquilo pelo que o louco torna-se louco, isto é, também aquilo pelo que, a loucura não sendo ainda dada, ele pode se comunicar com a não-loucura [...] ele escapa a si mesmo e a sua verdade de louco resumido-se numa região que não é nem verdade nem inocência, com o risco da falta, do crime ou da comédia [...]. A loucura só é possível a partir de um momento um distante, mas muito necessário, em que ela se arranca a si mesmo no espaço livre de sua não-verdade, constituindo-se com isso como verdade”. (FOUCAULT, 1972, p. 507) .

KANDINSKY, O PRECURSOR DA ARTE ABSTRATA [Por Manoel Serrão]





















O termo "abstrair" vem do latim ab e trahere significando "tirar de". Relata Kandinsky que certo dia quando "regressava de meus esboços, encerrado em meus pensamentos quando, ao abrir a porta do estúdio, vi-me de repente diante de um quadro de beleza indescritível e incandescente. Perplexo, detive-me olhando-o. O quadro carecia de tema, não descobria objeto algum identificável e era totalmente composto de brilhantes manchas de cor. Finalmente, me acerquei mais e só então reconheci o que aquilo era realmente: meu próprio quadro, posto de lado sobre o cavalete... Uma coisa se evidenciou: que a objetividade, a descrição de objetos, não era necessária em minhas pinturas, e na realidade, as prejudicava...”


Ora, vejam só foi exatamente com estas palavras que o grande mestre pintor Vassily Kandinsky narrou sua mais inusitada experimento vivido de maneira apocalíptica, num determinado dia do ano de 1908, quando, ao entardecer regressava a seu estúdio, experiência que ia ser determinante para a sua futura obra. A citação tem um enorme interesse histórico, não só pela clareza de exposição dos sentimentos do artista, mas também porque Kandinsky é considerado o primeiro pintor do século XX a realizar uma obra deliberadamente abstrata: uma aquarela pintada dois anos mais tarde, em 1910, sem nenhuma referência figurativa, sem nenhuma alusão à realidade exterior, é considerada a primeira obra de arte abstrata contemporânea.

ALMA DE LAGO [Manoel Serrão]

















Dedicado ao poeta João Batista do Lago [24.07.2010]

"Algumas pessoas têm alma de Lago,
São profundas, águas cristalinas.
Outras poças rasas, lamas pesam toneladas".


Foto by Mariana Saphyra: imagem Inês de Castro - poetas João Batista do Lago e Manoel Serrão - Rio Una - Morros [Ma].

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

PARATI [Manoel Serrão]



















Toma o que é teu,
Como a ti, tomas?
Água gasosa ou
Grappa de lama.