sábado, 13 de novembro de 2010

ÉRATO & CALÍOPE [Manoel Serrão]




























Por Zeus e Mnemósine cria de Urano e Gaia
Que me-a fizestes?
Que me-a fizestes, ó Calíope?
Que a mim fizestes, ó rainha da epópeia,
Ó Deusa da eloquência e da poesia épica, que me-a fizestes?
Por Zeus e Mnemósine filha de Urano e Gaia
Que me-a fizestes?
Que me-a fizestes, ó Érato?
Que me-a fizestes, ó musa da lira.
Ó Deusa dos hinos e da poesia lírica, que me-a fizestes?
Deos, que me-a fizestes
Ó régia de encantar os afetos?
Ó “fleur” delibada de cortejados dons?
Que me-a fizestes?
Tomaste-me às mãos.
Tomaste-me o corpo e as vestes.
Tornaste-me essência.
Tomou-me do avesso o inverso.
Não vês que, já de pé, se comprazem
E se alegram os meus versos?
Não vês que, já pulsão, guirlandas de flores adornam-me o coração?
E que pétalas de rosas atapetam a chã d’alma, entorpece-me?
Ó ditosa, tece e ama!
Como desejo onde tu ‘stás, e aqui, devora-me,
Um’hora, por toda parte a querer-te anseio mais.
Amostrade-mh-a Eros que no céu, d’agora,
No-lo - ás cirros gris nem cerúleo de azul igual.
No-lo - ás decassílabos de versos brancos nem rimas pobres,
Tampouco pranto no imo dantes quão inelutável aguaçal.
Por Pausânias,
Amostrade-mh-a Eros
Não vês que o arco-íris no porto cais da poesia,
já não chora a dor sem amor na vida.
Ó vernal primavera de reflorescer a verve.
Ó ambrosia de suster no regalo o verbo.
Ó pôr Deos, que me-a fizestes, ó musa?
Ó oceano aberto, mar sem fronteiras,
Contigo irei até onde navegarem as velas.

O pálido ponto azul - Dubl. Português - Carl Sagan

O DOMINIUM DO CONSUMO [Manoel Serrão]






















O HOMEM CONTEMPORÂNEO - O DOMINIUM DO CONSUMO - E A MÍDIÁTICA DA TV

Domínio: do latim dominium, domínio, propriedade do dominus, senhor, dono da do mus, casa, do grego doma, que era equivalente a oikos, casa. É também a origem de domar, sujeitar o animal, dar-lhe costumes domésticos, isto é, ligados a casa onde mora o dono.

® Manoel Serrão da Silveira Lacerda.

Vá além. Olhe o mundo à sua volta. O universo circundante. Aceite o desafio, aguce suas lembranças, ouça o chamado da consciência, convide-se a reflexão. Deixe o vento da constatação, a onda, a tsunami de o consumo presente bater no Sujeito, respire fundo e siga a constatação de que algo anda por demais errado com o mundo globalizado, ou tecno-cyber-digital nesses tempos ditos de “contemporaneidade” vivenciada por todos nós.

Se antes o desejo de consumo despontava claramente entre o preto e o branco, agora existem muito mais cinzas na sociedade do espetáculo, já que nem sempre atinamos para o fato de que somos o que consumimos. E o que consumimos nos dias atuais proporcionado pela indústria cultural, pelo modismo recorrente, pelos arquétipos enfeitados e modelos inventados que determinam a tua, a minha e a nossa aceitação, tudo movido pelos padrões de comportamento e beleza impostos por determinado grupo social em que vivemos, além do rolo compressor da grande mídia [capitaneada pela TV Globo] com todo o seu poderio de influenciar o modus vi vendi de cada um, seja de forma individualizada ou coletiva, quadriplicou.

Segundo, Theodor Adorno, a televisão, será [e já o é] principal instrumento dentre os “meios de massa” conhecidos servindo apenas aos interesses dos donos dos meios de comunicação para não só deflagrar o consumo das massas, como também da indústria cultural, que, nas próprias palavras do autor, “impede a formação de indivíduos autônomos e independentes, capazes de julgar e decidir conscientemente”. Ou seja, O “emburre cimento” de quem não consegue diferenciar seus próprios pensamentos.

Vejam só como a ciência e a tecnologia de braços dados seguem amparadas pelo Senhor-do-mercado que nada mais é do que o próprio mercado do sujeito consumidor -, que proporcionando a demanda exige de acordo com “O sistema dos objetos” – Tese de Mestrado de Bertoldo Brecher e Peter Weiss [sob orientação do filósofo Henri Lefebvre], na qual problematiza o lugar que mesas, televisões, carros e bolsas, exemplo ocupavam o cotidiano das pessoas. Questiona Baudrillard no primeiro parágrafo da introdução do trabalho: “Poderemos classificar o luxuriante aumento do número de objetos como o fazemos com a fauna e flora, completo com espécies glaciais e tropicais mutações inesperadas, e variações ameaçadas de extinção?” e assim o consumo descartável de objetos de uso cada vez mais “modernos”, “novos”, “luxuosos”, “eficientes” e “avançados”, e que paulatinamente sem que se perceba claramente vão moldando um “novo homem” além de uma “nova qualidade de vida”. Infelizmente vivemos sob uma crescente e aparentemente inevitável mercantilizarão de todos os domínios da experiência humana. Isto é, por outras palavras... ”um mundo pragmático onde, sob o império da lógica econômica, da produção e da hegemonia dos códigos, cria-se um sistema capaz de neutralizar e tornar inútil toda a atividade crítica, inclusive à atividade crítica teórica, acrescenta o professor Ondina Pena Pereira [Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG].

A situação em si anuncia-se gravíssima estabelecendo-se de forma silenciosa e sorrateira vai engolindo o homem-ser e revelando o “novo” homem - ter, tornado objeto anulado, alienado e coisificação, haja vista que: O sistema econômico já provê as próprias mercadorias com aqueles valores que, mais tarde, decidirão sobre o comportamento dos indivíduos. As agências de produção cultural, por seu turno, cumprirão a tarefa de inculcar naqueles toda uma série de condutas tidas como as únicas “normais”, “decentes” e “racionais”. [T.W. Adorno e M. Horkheimer - Ethos sem, ética – A Perspectiva Crítica].

De acordo com tais premissas, as reflexões empreendidas pelos autores T.W. Adorno e M. Horkheimer [Ethos Sem, Ética – A Perspectiva Crítica] e agora segundo o cientista Luiz A. Calmon Nabuco Lastória alude que acerca das sociedades ditas esclarecidas evidenciam que o processo por meio do qual os indivíduos são brutalmente subsumidos pela totalidade do sistema social é tão pouco representativo da “verdadeira qualidade dos homens” quanto o valor econômico é representativo dos objetos de uso. No âmbito do particular, tudo passa então a ser medido em termos de sucesso ou fracasso e à consciência moral cabe apenas decidir entre o “mal” e o “mal menor” tendo em vista a autoconservação do indivíduo. Não lhe é possível julgar a legitimidade das alternativas que se apresentam; esse sentimento de impotência experimentado pela consciência do homem moderno nada mais seria do que o índice subjetivo da heteronímia moral como resultante objetiva última do transcurso percorrido pelo esclarecimento até agora.

Aliás, afirma o cientista, conforme apontam os autores, o caráter coercitivo da auto conservação que se impõe à consciência moral dos homens já se faz presente na Odisséia de Homero. Pois, diante da alternativa entre submeter-se à natureza ou submetê-la a si, o comportamento do herói – Ulisses – testemunha a sua capacidade racional de ajustar meios a fins para tornar Odisséia, o qual relata o encontro de Ulisses com as sereias:

O caminho da civilização era o da obediência e do trabalho, sobre o qual a satisfação não brilha senão como mera aparência, como beleza destituída de poder. O pensamento de Ulisses, igualmente hostil à sua própria morte e à sua própria felicidade, sabe disso. Ele conhece apenas duas possibilidades de escapar. Uma é a que ele prescreve aos companheiros. Ele tapa os seus ouvidos com cera e obriga-os a remar com todas as forças de seus músculos.

(...) A outra possibilidade é a escolhida pelo próprio Ulisses, o senhor de terras que faz os outros trabalharem para ele. Ele escuta, mas amarrado impotente ao mastro, e quanto maior se torna a sedução, tanto mais fortemente ele se deixa atar

(...). O que ele escuta não tem conseqüências para ele, a única coisa que consegue fazer é acenar com a cabeça para que o desatem; mas é tarde demais, os companheiros – que nada escutam – só sabem do perigo da canção, não de sua beleza – e o deixam no mastro para salvar a ele e a si mesmo. [Adorno & Horkheimer, 1985, p. 45]

A partir da interpretação que fazem da Odisséia, os autores também assinalam que o trabalho e a fruição estética já se apresentam separados desde a despedida do mundo pré-histórico.
Por esta razão, toda a cultura e, mais particularmente, as obras de arte que são o seu corolário partilham a culpa de uma sociedade edificada sobre as bases do trabalho comandado.

Conforme suas palavras, as medidas tomadas por Ulisses no interior de sua nau quando da passagem pelas sereias, “pressagiam alegoricamente a dialética do esclarecimento”. “E, nesse sentido, a epopéia já conteria os princípios da “teoria correta”, teoria essa que, muito mais tarde, viria possibilitar, por intermédio de seus conceitos e fórmulas, a autonomização da totalidade social em face de todos”.

Por último, após passada revista em tema atualíssimo que diz respeito a todos nós, pois afinal de contas querendo ou não somos parte integrante desse mundo, necessário se faz que cada um faça ainda que breve uma reflexão crítica sobre o mundo atual em que vivemos, e por via de conseqüência, o modo de pensá-lo, o foco do olhar para outro ângulo atentamente dê-se conta das coisas que nos cercam nos tempos atuais, esses obscuros objetos de desejo, o desejo irrefreável de consumo a toda prova, nos conduzem feito uma manada para o abismo da desertificação, da alienação, da anulação, da coisificação na totalidade do ser homem e seus laços de afetividade, tornando-nos submissos de sistemas e poderes além de todo tipo de escravidão por vir.
Basta!
Manoel Serão da Silveira Lacerda
[Poeta, Advogado e Professor de Direito].
São Luis [MA], 09 de março de 2010.

Fontes pesquisadas: Luiz A. Calmon Nabuco Lastória – Ethos Sem Ética: A perspectiva crítica de T.W. Adorno e M. Horkheimer;
Adorno, a Indústria Cultural e a Internet – por Sérgio Amaral Silva – pág. 40 a 43 - Filosofia – Conhecimento Prático; e,
Viver para o Consumo – Obra do Francês Jean Baudrillard – por Marcelo Galli – pág. 26 a 31 –

IMPERMANÊNCIAS [Manoel Serrão]


















Há dias fastos,
E outros nefastos.
Um sorrir para o circo,
O outro chora no pasto.



Comentário de João Batista do Lago em 10 novembro 2009 às 20:25 [“João Batista do lago, maranhense, pode ser considerado, atualmente, um dos mais completos poetas e cronistas do Brasil, haja vista a consciência plural e significativa de sua intuição cultural, fato que o faz passear entre musgos históricos gregos e o modernismo clariciano, espargindo o pensamento poético alemão, americano ou inglês, sem esquecer das taças saboreantes dos vinhos que enebriaram o cismar dos poetas franceses como BAUDELAIRE (Charles Baudelaire), MALLARMÉ (Stéphane Mallarmé), FRANÇOIS COPÉE (François Édouard Joaquim Copée) e MUSSET (Louis Alfred de Musset) – o poeta do amor. Como eu, o Maranhão e o Brasil também, creio, se orgulham de João Batista do Lago, uma das maiores expressões literárias do mundo moderno. Fato que, realmente não deixa a desejar se comparado a nenhum dos franceses acima citados”. Marconi Caldas Poeta, escritor e advogado São Luís – Maranhão – Brasil 2007]


Já revelei noutra oportunidade que sou admirador da poética de Manoel Serrão. É-me – aos meus olhos – provavelmente, o poeta mais complexo do Maranhão, na atualidade. Dono de uma larga obra (toda ela socializada na Internet), Manoel Serrão, desde que tive a primazia de conhecê-lo, “espanta-me” com os seus versos, e muitas vezes, me conduz a reflexões dialético-materialista-fenomenológicas.
Neste seu poema – IMPERMANÊNCIAS – por exemplo, o P., num quarteto vérsico magistralmente construído, reflexiona sobre a pósmodernidade sem cair no reducionismo comum ao campo sócio-econômico-político.
A crítica, contumaz e contundente, que infere estes versos, é de um “visceralismo” apaixonante, i.é., ele arregaça o espírito daquilo que conhecemos como “PósModerno”, para nos deixar antever definitivamente claro que o caos está presente como onipotência e onisciência nessa nossa louca hodiernidade... Ou nessa modernidade tardia, como preferem alguns sociólogos e estudiosos ou pesquisadores sociais.
E de que maneira ele traduz isso? Fá-lo a partir duma dupla personificação adjetivada, ou seja, a partir de dois “campos” individualizados na complexidade do sistema existencial de humanos que perambulam pelas cidades como indivíduos fastos-nefastos e que se arrastam pela cadeia duma vida que já não mais lhos pertecem...
E é nessa exata presencialidade tempo-atemporal urdida na dupla face de sujeitos que não são sujeitos de mais nada, mas apenas de uma análise discursiva capaz de nos engessar, ou seja, de nos esconder a partir de nós mesmos dentro de nossos vazios existenciais.
Seja da face “fasto” ou da face “nefasto” há, nessa dupla dicotomia de si-de-ambos, o caos instalado com suas vertentes de fractalização ou de fragmentação dos sujeitos de-si, que já não mais fazem quaisquer sentidos. Nem mesmo o sentido de uma “classe” que, porventura, poder-se-ia inferir em quaisquer desses ambos.
Mesmo aquele que “sorrir para o circo” não se diferencia do “outro que chora no pasto”, pois que, ambos já não têm de si nem o sorriso nem o choro. E é exatamente neste instante que eles perdem o “espírito do sujeito” que neles poderiam resistir e fazer e dar sentido às suas existencialidades existenciais.
Paradoxalmente, ambos os dois são a essência de suas próprias mortes, assim como o são a essência das mortes de si-outro. Ambos os dois riem e choram ou choram e riem na selva caótica dos desesperados... Despedaçados... Fragmentados...
Mas há, aqui e agora, outra inferição que gostaria de aventar para este instante, mas que está submersa neste seu poema: Manoel Serrão nos põe a nu diante de nossa dupla face daninha de nós mesmos. Revela-nos, como um filósofo hermético, o grande dilema que nos move pelos caminhos que traçamos: o só. Não o estar só, mas o ser-si-só...
Porventura, não seria a posmodernidade a maior produtora dessa condição de ser-si-só?

CALI GRAMA [Manoel Serrão]





















Cali grama.
Cali etimo fragma.

Cali nu xeno anêmico
Cali etno noso a fago.

Xeno sofo.
Xeno eco o cosmo.
Xeno oniro.
Xeno o filo Teo de andro e gino.

Cali trama
Cali da claquer o cálix.
Cali cine o logo da hoste
Cali éter o anemo da gag.

Xilo sema.
Xilo o gene e geo.
Xilo o xisto.
Xilo iso a fos e tanas...

Cali grama!
Filo grama... O miso radical-grego que maceta os ossos.
O caco carcinoma na testa do mito CEO [Chief Executive Officer].

Homens apenas? Apenas homens!
Não ícone necro objeto do ofício!
Há um mundo lá fora... vidas...
Bocas de comer com os olhos.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

MESMIDADE [Manoel Serrão]























Fornada a fornada
Um tempo outra casca torrada.
Outro tempo, miolo mofado,
Pão desfeito, despedaçado.
Quando o trigo já não é o que é,
O joio nos pensa.



quinta-feira, 26 de agosto de 2010

DÂNDI ATÍMICO [Manoel Serrão]




















Desbrio cromo rude anômalo.
Ethos aléxico nude atímico.
Xeno-imago anon-imato o atávico,
Persona enfadonha divisa psique da soma.


Neo-autômato, risus sardonicus.
Dândi inseto desafeito o afeto.
L’infâme do não-ser o afago,
O héxis no desfrute da Távora.


Suícida!
Voro animi mori o cordi cida?
Suícidio vacante o Matrix.
O nada ser visto,
O não-acontecido.
O irreal e O invisível.
O Silente insidia tornado exílio que apaga o outro.

ILHOSES [Manoel Serrão]
















Feito corpo.
Feito alma.
Feito espírito.
Feito todos nós infestos de agruras abstêmias
Idem inglório epíteto insultos os.


Destapas d’alma a fenda ó bardo?
Azo a sós, dê-se em essência parida, opila,
Tece pelo bico da Parkinson odes diversas das que vos alinhava tecidas a ponto perfeito?


Não ranço?
Não o vil escárnio que escoado pelo o esfínque sai escarro:
A de não tê-las n’outras cartilhas o verbo a dor sido purgado para ser carne?
Vês?! Vês que dor se for [do que duvido!] não é verbo para sê-lo,
E se feito dor porque dor se faz nem sequer é carne.


Feito dor.
Feito verbo.
Feito carne.
Feito todos nós infestos de agruras abstêmias
Idem inglório epíteto insultos os.
É preciso tu, que o pensa ser, mais que tudo, útero,
Deus e o Nada sede mais que os nós dos ilhoses.


Ousa te dizer?
Ou é-me essência!
Ou de fenestra a Ambrosia dos mortais

SAL & CAL [Manoel Serrão]




















A safra o sal encharca o chão,
Safa em sacas faz do silo o cio
E do latifúndio são parecer o céu.


A cal o pó do estio o caos.
A sesma a dor a sede,
O ser a fome, agoniação.
Agoniza em vão, “paga”
A gleba cava sem-grão.


Cabra cega a fúria mira,
Ira, nega o feito e aponta,
Cede sem "opor-se ao pão”
Mas a conta?
O dedo acaba no cão.


CÂNDIDO PORTINARI, Criança Morta (Criatura muerta), 1944

Óleo s/ tela, 176 x 190 cm.
Col. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand São Paulo, Brasil

FOUCAULT [A História da Loucura] [Por.: SerrãoManoel]



















“Aquilo pelo que o louco torna-se louco, isto é, também aquilo pelo que, a loucura não sendo ainda dada, ele pode se comunicar com a não-loucura [...] ele escapa a si mesmo e a sua verdade de louco resumido-se numa região que não é nem verdade nem inocência, com o risco da falta, do crime ou da comédia [...]. A loucura só é possível a partir de um momento um distante, mas muito necessário, em que ela se arranca a si mesmo no espaço livre de sua não-verdade, constituindo-se com isso como verdade”. (FOUCAULT, 1972, p. 507) .

KANDINSKY, O PRECURSOR DA ARTE ABSTRATA [Por Manoel Serrão]





















O termo "abstrair" vem do latim ab e trahere significando "tirar de". Relata Kandinsky que certo dia quando "regressava de meus esboços, encerrado em meus pensamentos quando, ao abrir a porta do estúdio, vi-me de repente diante de um quadro de beleza indescritível e incandescente. Perplexo, detive-me olhando-o. O quadro carecia de tema, não descobria objeto algum identificável e era totalmente composto de brilhantes manchas de cor. Finalmente, me acerquei mais e só então reconheci o que aquilo era realmente: meu próprio quadro, posto de lado sobre o cavalete... Uma coisa se evidenciou: que a objetividade, a descrição de objetos, não era necessária em minhas pinturas, e na realidade, as prejudicava...”


Ora, vejam só foi exatamente com estas palavras que o grande mestre pintor Vassily Kandinsky narrou sua mais inusitada experimento vivido de maneira apocalíptica, num determinado dia do ano de 1908, quando, ao entardecer regressava a seu estúdio, experiência que ia ser determinante para a sua futura obra. A citação tem um enorme interesse histórico, não só pela clareza de exposição dos sentimentos do artista, mas também porque Kandinsky é considerado o primeiro pintor do século XX a realizar uma obra deliberadamente abstrata: uma aquarela pintada dois anos mais tarde, em 1910, sem nenhuma referência figurativa, sem nenhuma alusão à realidade exterior, é considerada a primeira obra de arte abstrata contemporânea.

ALMA DE LAGO [Manoel Serrão]

















Dedicado ao poeta João Batista do Lago [24.07.2010]

"Algumas pessoas têm alma de Lago,
São profundas, águas cristalinas.
Outras poças rasas, lamas pesam toneladas".


Foto by Mariana Saphyra: imagem Inês de Castro - poetas João Batista do Lago e Manoel Serrão - Rio Una - Morros [Ma].

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

PARATI [Manoel Serrão]



















Toma o que é teu,
Como a ti, tomas?
Água gasosa ou
Grappa de lama.

domingo, 25 de julho de 2010

pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico.
















"pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico."


É a palavra mais extensa da língua portuguesa tem 46 letras:
[Ela descreve o estado das pessoas que sofrem de uma doença rara, provocada pela aspiração de cinzas vulcânicas].

:Xpõferens./ [ManoelSerrão]









:Xpõferens./

:Xpõferens./
Xpõ [GREGO] = CRISTO
FERES [LATIM] = MENSAGEIRO

*CONSPIRAÇÃO* [Dedicado a Angola] [ManoelSerrão].



















Dia desses,
Lá pras bandas d'além mar, o carrego.
Apraza-te!
N'gola mais bela do que pretende ser apenas paz,
Por ti ansiosa espera.
Conspiraremos [o] Amor.

GUARDANAPO [ManoelSerrão]















Desencantos...
Desencontros... de cansaço,
Partiu puiu se a cambraia.
Inda o linho a sentir retalho, sujidade coagulada.
Sobre o pano – resto de tuas marcas –
Um batom, um aceno adeus,
Uma saudade...
E nenhum o amor pra mim.
Mas fui o eterno contigo!

TROMBAS D'ÁGUA [Manoel Serrão]



O amor insone
Chora rios de prantos.
Mas quando dorme
Trombas-d'água.

INTRAMUROS [ManoelSerrão]





















Intramuros?
Intramuros o Kama Sutra
Como Vênus vale tudo!
Extramuros?
Siso-duro
Amnético-e-mudo.

INCÓGNITA [ManoelSerrão]





















O livro é um ser para mim,
Quanto mais leio [o] desconheço.

CRIANÇA [ManoelSerrão]














Desde a infância
o amor é como uma criança,
não fala com estranhos.

A GRAVIDADE [ManoelSerrão]




















Bela! Bela!
Bela anca.
Bela bunda.
Bela dança rabo-de-saia.
A


g


r


a


v


i


d


a


d


e


Ainda
vai quebrar tua cara.

ESCATOLOGIA [ManoelSerrão]





















Se  miguxas tu?
Não miguxo eu?
Não miguxo do ver-bus discensi basal.
Nem do I korretu no-nonsensical.
Não miguxo da voga para alex [;] a do Neu-Miguxe.
Não miguxo!


Ó miguxês verve hilária,
Escatologia orfista de feiúra "lux".
Refrega pagã do verbo-ser carne que peleja a desossa o descarne.
Dize-o tu, cúm'lo... q' enlarge your verbus?
E ri-se f[A]la dos qqqqs o Satanás!...
É o que está a dar o riscar d’uns kkkks e hahas!
Ó velino do pesponto a grafite?
Retuíte! A Net não vale a borracha.

INCULPADA [ManoelSerrão]





















Dominada?
Domada ilumina o onthos,
Fragmenta O homem
E avista o Outro.
Inculpada.
Dês culpada.
Ó culpa perdoada
Quando fordes,

Contigo iremos flores!

OUVIR [ManoelSerrão]




















Conversar?
Converse mas ouça sempre
Até bater com as orelhas
nos dentes.

ÁGUA ARDÊNCIA [ManoelSerrão]





















Copo entre copos
Corpo entre corpos.
Copo entre corpos.
Corpo entre copos
Corpo estranho, a sede.
Sede estranha, o copo.
O corpo e o copo.
O copo e o corpo.
Um pouco entre todos os outros,
Quando não...
Água ardência [di] versa [o] que sou.
A sede insaciável de mim.

COMUM M ENTE [ManoelSerrão]

















Super.
Top. Mega tower.
Monólito monumental.
Engenharia de causar espanto!
Comum mente o sustentado que se mostra falso?
Ruiu! Caiu! Malogrou!
Até a matemática, que trata das propriedades de grandeza,
Errou nos cálculos!    Foi um “quase sucesso” o teu engano.













CHAPINHAS & QUERATINAS [ManoelSerrão]



















Homens
quanto apuram haveres,
segredos no cofre.


Mulheres
quanto fazem os cabelos,
picotam as cortinas.

INDISSOLÚVEL [ManoelSerrão]





Indissolúvel infinito
O amor que me abraça
Não tem ponto final!
Só reticências...









KAMIKAZE [ManoelSerrão]






















Sem kit, net e “pena.”
Repasto, pasto ou Lar.
Sem zero cal e card,
O status do Ford kA?
Kamikaze no altar.

POEMETO DIABRETE [ManoelSerrão]















No plenilúnio em desoras
Quando choro e fico só?
Cão fiel prá cachorro!
Sou como os homens.
Amo os cães!


PEGADA DE CARBONO [ManoelSerrão]





















Pé ante Pé.
Passo a passo.
Pegada a pegada
Do Himalaia ao sopé de Parnaso
Marca registrada.
Tatoo na pedra lascada.
Caminha a vida sem hora marcada.
Do pó vieste... E ao pó voltarás? ...

CORDA MESTRA [ManoelSerrão]




















Pedra mó.
Pedra dura.
Pedra pó
Pedra lisa.


Mão após mão.
Cava após cava.
Perna após perna.
A rocha ensina a "pedreira".
Escalo a Vida pela corda mestra.

SHAH MATQUE [ManoelSerrão]


















Para os pampas
Para os Andes.
Alte planos,
Para os mares
Casamatas
Sob os canyors
A mim não importa
Por saber onde não estou?
Ilusões são como miragens
Onde estás
Não estou?
Eu olho... Tu vês... Ele dejavour
Vês?! Vês quê dês em vão não me foram às ilusões.



O FLUENTE E O CONFLITO [ManoelSerrão]


















Para o amor confluente?
Até que o finale os separe.
Para o conflitante?
Nem um parágrafo a mais.

SINTHOMAS [ManoelSerrão]














SINTHOMAS



Dali com Freud
Ou contra Kant
Mas nunca sem Da Vinci?
Para Lacan as escolhas são SINTHOMAS.
Para Picasso há quem pinte!

ABRAM ALAS [ManoelSerrão]













ABRAM ALAS


Abram cada.
Abra...
Abram alas.
Abra cada registro o dividido.
Abra cada abra palavra “na ponta d’lingua”
É um signo fica... Cada o Sinne... Abra o som...
Abra o saco... Cada... Abra...
Torna o sacro humano a "morada do ser"!

* Sinne = sentido.