sábado, 13 de novembro de 2010

ÉRATO & CALÍOPE [Manoel Serrão]




























Por Zeus e Mnemósine cria de Urano e Gaia
Que me-a fizestes?
Que me-a fizestes, ó Calíope?
Que a mim fizestes, ó rainha da epópeia,
Ó Deusa da eloquência e da poesia épica, que me-a fizestes?
Por Zeus e Mnemósine filha de Urano e Gaia
Que me-a fizestes?
Que me-a fizestes, ó Érato?
Que me-a fizestes, ó musa da lira.
Ó Deusa dos hinos e da poesia lírica, que me-a fizestes?
Deos, que me-a fizestes
Ó régia de encantar os afetos?
Ó “fleur” delibada de cortejados dons?
Que me-a fizestes?
Tomaste-me às mãos.
Tomaste-me o corpo e as vestes.
Tornaste-me essência.
Tomou-me do avesso o inverso.
Não vês que, já de pé, se comprazem
E se alegram os meus versos?
Não vês que, já pulsão, guirlandas de flores adornam-me o coração?
E que pétalas de rosas atapetam a chã d’alma, entorpece-me?
Ó ditosa, tece e ama!
Como desejo onde tu ‘stás, e aqui, devora-me,
Um’hora, por toda parte a querer-te anseio mais.
Amostrade-mh-a Eros que no céu, d’agora,
No-lo - ás cirros gris nem cerúleo de azul igual.
No-lo - ás decassílabos de versos brancos nem rimas pobres,
Tampouco pranto no imo dantes quão inelutável aguaçal.
Por Pausânias,
Amostrade-mh-a Eros
Não vês que o arco-íris no porto cais da poesia,
já não chora a dor sem amor na vida.
Ó vernal primavera de reflorescer a verve.
Ó ambrosia de suster no regalo o verbo.
Ó pôr Deos, que me-a fizestes, ó musa?
Ó oceano aberto, mar sem fronteiras,
Contigo irei até onde navegarem as velas.

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