sábado, 13 de novembro de 2010

O DOMINIUM DO CONSUMO [Manoel Serrão]






















O HOMEM CONTEMPORÂNEO - O DOMINIUM DO CONSUMO - E A MÍDIÁTICA DA TV

Domínio: do latim dominium, domínio, propriedade do dominus, senhor, dono da do mus, casa, do grego doma, que era equivalente a oikos, casa. É também a origem de domar, sujeitar o animal, dar-lhe costumes domésticos, isto é, ligados a casa onde mora o dono.

® Manoel Serrão da Silveira Lacerda.

Vá além. Olhe o mundo à sua volta. O universo circundante. Aceite o desafio, aguce suas lembranças, ouça o chamado da consciência, convide-se a reflexão. Deixe o vento da constatação, a onda, a tsunami de o consumo presente bater no Sujeito, respire fundo e siga a constatação de que algo anda por demais errado com o mundo globalizado, ou tecno-cyber-digital nesses tempos ditos de “contemporaneidade” vivenciada por todos nós.

Se antes o desejo de consumo despontava claramente entre o preto e o branco, agora existem muito mais cinzas na sociedade do espetáculo, já que nem sempre atinamos para o fato de que somos o que consumimos. E o que consumimos nos dias atuais proporcionado pela indústria cultural, pelo modismo recorrente, pelos arquétipos enfeitados e modelos inventados que determinam a tua, a minha e a nossa aceitação, tudo movido pelos padrões de comportamento e beleza impostos por determinado grupo social em que vivemos, além do rolo compressor da grande mídia [capitaneada pela TV Globo] com todo o seu poderio de influenciar o modus vi vendi de cada um, seja de forma individualizada ou coletiva, quadriplicou.

Segundo, Theodor Adorno, a televisão, será [e já o é] principal instrumento dentre os “meios de massa” conhecidos servindo apenas aos interesses dos donos dos meios de comunicação para não só deflagrar o consumo das massas, como também da indústria cultural, que, nas próprias palavras do autor, “impede a formação de indivíduos autônomos e independentes, capazes de julgar e decidir conscientemente”. Ou seja, O “emburre cimento” de quem não consegue diferenciar seus próprios pensamentos.

Vejam só como a ciência e a tecnologia de braços dados seguem amparadas pelo Senhor-do-mercado que nada mais é do que o próprio mercado do sujeito consumidor -, que proporcionando a demanda exige de acordo com “O sistema dos objetos” – Tese de Mestrado de Bertoldo Brecher e Peter Weiss [sob orientação do filósofo Henri Lefebvre], na qual problematiza o lugar que mesas, televisões, carros e bolsas, exemplo ocupavam o cotidiano das pessoas. Questiona Baudrillard no primeiro parágrafo da introdução do trabalho: “Poderemos classificar o luxuriante aumento do número de objetos como o fazemos com a fauna e flora, completo com espécies glaciais e tropicais mutações inesperadas, e variações ameaçadas de extinção?” e assim o consumo descartável de objetos de uso cada vez mais “modernos”, “novos”, “luxuosos”, “eficientes” e “avançados”, e que paulatinamente sem que se perceba claramente vão moldando um “novo homem” além de uma “nova qualidade de vida”. Infelizmente vivemos sob uma crescente e aparentemente inevitável mercantilizarão de todos os domínios da experiência humana. Isto é, por outras palavras... ”um mundo pragmático onde, sob o império da lógica econômica, da produção e da hegemonia dos códigos, cria-se um sistema capaz de neutralizar e tornar inútil toda a atividade crítica, inclusive à atividade crítica teórica, acrescenta o professor Ondina Pena Pereira [Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG].

A situação em si anuncia-se gravíssima estabelecendo-se de forma silenciosa e sorrateira vai engolindo o homem-ser e revelando o “novo” homem - ter, tornado objeto anulado, alienado e coisificação, haja vista que: O sistema econômico já provê as próprias mercadorias com aqueles valores que, mais tarde, decidirão sobre o comportamento dos indivíduos. As agências de produção cultural, por seu turno, cumprirão a tarefa de inculcar naqueles toda uma série de condutas tidas como as únicas “normais”, “decentes” e “racionais”. [T.W. Adorno e M. Horkheimer - Ethos sem, ética – A Perspectiva Crítica].

De acordo com tais premissas, as reflexões empreendidas pelos autores T.W. Adorno e M. Horkheimer [Ethos Sem, Ética – A Perspectiva Crítica] e agora segundo o cientista Luiz A. Calmon Nabuco Lastória alude que acerca das sociedades ditas esclarecidas evidenciam que o processo por meio do qual os indivíduos são brutalmente subsumidos pela totalidade do sistema social é tão pouco representativo da “verdadeira qualidade dos homens” quanto o valor econômico é representativo dos objetos de uso. No âmbito do particular, tudo passa então a ser medido em termos de sucesso ou fracasso e à consciência moral cabe apenas decidir entre o “mal” e o “mal menor” tendo em vista a autoconservação do indivíduo. Não lhe é possível julgar a legitimidade das alternativas que se apresentam; esse sentimento de impotência experimentado pela consciência do homem moderno nada mais seria do que o índice subjetivo da heteronímia moral como resultante objetiva última do transcurso percorrido pelo esclarecimento até agora.

Aliás, afirma o cientista, conforme apontam os autores, o caráter coercitivo da auto conservação que se impõe à consciência moral dos homens já se faz presente na Odisséia de Homero. Pois, diante da alternativa entre submeter-se à natureza ou submetê-la a si, o comportamento do herói – Ulisses – testemunha a sua capacidade racional de ajustar meios a fins para tornar Odisséia, o qual relata o encontro de Ulisses com as sereias:

O caminho da civilização era o da obediência e do trabalho, sobre o qual a satisfação não brilha senão como mera aparência, como beleza destituída de poder. O pensamento de Ulisses, igualmente hostil à sua própria morte e à sua própria felicidade, sabe disso. Ele conhece apenas duas possibilidades de escapar. Uma é a que ele prescreve aos companheiros. Ele tapa os seus ouvidos com cera e obriga-os a remar com todas as forças de seus músculos.

(...) A outra possibilidade é a escolhida pelo próprio Ulisses, o senhor de terras que faz os outros trabalharem para ele. Ele escuta, mas amarrado impotente ao mastro, e quanto maior se torna a sedução, tanto mais fortemente ele se deixa atar

(...). O que ele escuta não tem conseqüências para ele, a única coisa que consegue fazer é acenar com a cabeça para que o desatem; mas é tarde demais, os companheiros – que nada escutam – só sabem do perigo da canção, não de sua beleza – e o deixam no mastro para salvar a ele e a si mesmo. [Adorno & Horkheimer, 1985, p. 45]

A partir da interpretação que fazem da Odisséia, os autores também assinalam que o trabalho e a fruição estética já se apresentam separados desde a despedida do mundo pré-histórico.
Por esta razão, toda a cultura e, mais particularmente, as obras de arte que são o seu corolário partilham a culpa de uma sociedade edificada sobre as bases do trabalho comandado.

Conforme suas palavras, as medidas tomadas por Ulisses no interior de sua nau quando da passagem pelas sereias, “pressagiam alegoricamente a dialética do esclarecimento”. “E, nesse sentido, a epopéia já conteria os princípios da “teoria correta”, teoria essa que, muito mais tarde, viria possibilitar, por intermédio de seus conceitos e fórmulas, a autonomização da totalidade social em face de todos”.

Por último, após passada revista em tema atualíssimo que diz respeito a todos nós, pois afinal de contas querendo ou não somos parte integrante desse mundo, necessário se faz que cada um faça ainda que breve uma reflexão crítica sobre o mundo atual em que vivemos, e por via de conseqüência, o modo de pensá-lo, o foco do olhar para outro ângulo atentamente dê-se conta das coisas que nos cercam nos tempos atuais, esses obscuros objetos de desejo, o desejo irrefreável de consumo a toda prova, nos conduzem feito uma manada para o abismo da desertificação, da alienação, da anulação, da coisificação na totalidade do ser homem e seus laços de afetividade, tornando-nos submissos de sistemas e poderes além de todo tipo de escravidão por vir.
Basta!
Manoel Serão da Silveira Lacerda
[Poeta, Advogado e Professor de Direito].
São Luis [MA], 09 de março de 2010.

Fontes pesquisadas: Luiz A. Calmon Nabuco Lastória – Ethos Sem Ética: A perspectiva crítica de T.W. Adorno e M. Horkheimer;
Adorno, a Indústria Cultural e a Internet – por Sérgio Amaral Silva – pág. 40 a 43 - Filosofia – Conhecimento Prático; e,
Viver para o Consumo – Obra do Francês Jean Baudrillard – por Marcelo Galli – pág. 26 a 31 –

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